Como a Netflix usa inteligência artificial para manter você “na tela”
Como a Netflix usa a inteligência artificial?
Antes de responder essa pergunta, é preciso lembrar que, fundada em 1997, a Netflix começou como um serviço de aluguel de DVD por correio.
Passados mais de 20 anos, tornou-se o serviço de streaming líder mundial em entretenimento, presente em mais de 190 países, com 193 milhões de assinantes e centenas de milhões de horas de conteúdo por dia, incluindo séries originais, documentários e filmes.
Mas como que a empresa virou referência para tanta gente, que passou a pagar para ver filmes e séries em um mundo em que se pode baixar e olhar de graça?
O maior segredo da Netflix está em manter você “na tela”. E como ela faz isso?
Usando inteligência artificial e machine learning para criar um sistema de recomendação incomparável junto com supervisão humana para melhorar a oferta de produtos e a experiência do usuário.
(pode parecer um pouco Black Mirror, mas é tudo real, ok?)
Os conceitos de Inteligência Artificial e Machine Learning
Antes de nos aprofundarmos no sistema de recomendação do Netflix, vamos primeiro conferir alguns conceitos básicos por de trás dessa “mágica” que nos gruda atrás da tela.
- Inteligência Artificial: é a inteligência demonstrada por máquinas, como mecanismos ou softwares, em contraste com a inteligência natural dos humanos;
- Machine Learning: traduzido como aprendizado de máquina, mas mais usado em inglês, é uma das aplicações de inteligência artificial e um método de análise de dados que automatiza a construção de modelos analíticos;
- Algoritmo: são um conjunto de instruções escritas para que as máquinas executem uma tarefa específica e são capazes de aprender e fazer previsões sobre os dados, tornando-os mais poderosos quanto mais são usados
- Big Data: são um conjunto enorme de dados para serem processados por uma única máquina.
Agora, como a Netflix usa tudo isso para aprimorar sua oferta de produtos e tornar a experiência tão incrível para os usuários?
A cultura analítica da Netflix
Quem assina Netflix pode assistir a quantos filmes e séries quiser, onde estiver e quando quiser, em qualquer dispositivo. O assinante pode assistir, pausar e voltar a assistir a um título sem ser interrompido por comerciais – motivo pelo qual muitos escolhem e pagam pelo serviço.
O que o usuário não percebe, mas que faz toda a diferença, é a personalização.
A empresa cria por meio de algoritmos e inteligência artificial, a lista de recomendação na tela inicial. E cada assinante – até mesmo cada perfil de uma mesma conta – tem um painel único.
O objetivo é apresentar automaticamente as opções de filmes e séries de acordo com os interesses individuais com base no comportamento de visualização de cada pessoa.
Mas, não é só isso!
Em um vídeo publicado pela Netflix, Tony Jebara, ex-diretor de ciência e análise de personalização da empresa, disse que “o machine learning está profundamente interligado a todos os aspectos dos negócios da Netflix”. Assista:
Essa “cultura analítica” da Netflix não é simplesmente para agradar o usuário. Quanto mais personalizado forem as sugestões de filmes, mais tempo o usuário fica dentro da plataforma.
E quanto mais tempo ele ficar na tela, mais valor gera para a empresa, mais assinantes atrai, e assim por diante.
Por isso, qualquer mudança, inclusão ou remoção na plataforma é amplamente analisada e testada antes que seja disponibilizada a todos os assinantes.
Isso serve para checar como os assinantes, de diferentes perfis, gostos e nacionalidades, reagem a toda mudança. O mais interessante é que tudo isso é feito “em tempo real”, valendo mesmo!
De acordo com o resultado desta análise comportamental a mudança é cancelada ou é disponibilizada para todos os assinantes.
Em um texto da própria Netflix, chamado de “Aprendendo como entreter o mundo”, a empresa fala sobre como os processos de machine learning permeiam todas as decisões e que isso também gera muitos desafios:
6 situações em que a Netflix usa a inteligência artificial e machine learning
Já falamos um pouco da personalização, que faz com que você fique grudado na tela. A seguir, veremos esta e mais 5 situações em que a Netflix usa a inteligência artificial e machine learning.
1) Personalização para recomendação de filmes
O principal objetivo do sistema de recomendação personalizada da Netflix é apresentar os títulos certos a cada um de nossos membros no momento certo.
Para isso, a plataforma usa o histórico de visualização de outros usuários com gostos semelhantes para recomendar o que pode interessar a você a seguir, de modo a mantê-lo engajado e continuar sua assinatura mensal por mais tempo.
Mas ela também coleta e analisa dados gerados por você mesmo. Entre eles:
- Preferência de Filmes por Gênero
- Avaliações dos Filmes
- Compartilhamentos no Facebook
- Visualização de Histórico
- Lista de Preferidos (ver mais tarde)
A partir disso, a Netflix usa Inteligência Artificial para analisar todos esses dados e fazer as recomendações a você quando acessar a plataforma novamente.
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2) Geração automática e personalização de miniaturas
Por que você clicou em um título recomendado e não em outro? Parte dessa resposta pode ser devido à miniatura do filme escolhido.
A arte pode destacar um ator que você reconhece ou capturar um momento emocionante da série ou conter uma cena dramática que transmite a essência de um filme.
Como a Netflix escolhe a miniatura? Usando milhares de quadros de vídeo de um filme como ponto de partida para a geração de miniaturas, anotando essas imagens e classificando cada uma para identificar quais têm a maior probabilidade de conquistar seu clique.
Esses cálculos são baseados no que outras pessoas semelhantes a você clicaram. Ou seja, as miniaturas também variam conforme o usuário, a nacionalidade e seus gostos.
3) Pesquisa de locação para produção de filmes
O uso de inteligência artificial pela Netflix não está apenas na plataforma de streaming. A empresa também usa os dados para ajudar a decidir onde e quando gravar um filme ou série.
Tudo isso conforme as restrições de programação (disponibilidade do ator e da equipe), orçamento (local, custos de voo e hotel) e requisitos de produção (como filmagem diurna X noturna, probabilidade de riscos de eventos climáticos em um local).
Esse é mais um caso de otimização utilizando ciência de dados do que um modelo de machine learning, que faz previsões com base em dados anteriores.
4) Definição de atores diretores e cenários que agradam mais
Ainda na fase de pré-produção, outro uso de Inteligência Artificial pela Netflix está na escolha de atores, diretores e cenários que agradam mais aos seus assinantes.
Com base nessa análise, a empresa toma decisão para produzir seus próprios conteúdos com uma capacidade bem maior de acertar em cheio.
House of Cards foi um exemplo disso. A decisão de investir na produção da série política foi baseada em dados históricos sobre o comportamento dos usuários, como:
- A escolha do ator Kevin Spacey, que tinha número de avaliações positivas consideráveis;
- A direção de David Fincher, devido ao índice de buscas pelo filme A rede social, dirigido por ele;
- E o fato de que a versão antiga de House of Cards estava com alta busca na plataforma, mesmo não tendo nenhuma ação de divulgação.
5) Edição de filme (pós-produção)
Ah, o big data. Mesmo dados antigos, de quando as máquinas nem eram capazes de processar um volume tão grande de informações, estão sendo usados para tomar decisões hoje em dia.
A Netflix, por exemplo, usa dados históricos sobre casos em que as verificações de controle de qualidade falharam, por exemplo, quando a sincronização de legendas com o áudio ou com os movimentos estavam com erro, para prever quando uma verificação manual pode ser mais benéfica.
Tudo isso agiliza muito os processos, evitando desperdício de tempo e dinheiro.
6) Qualidade de streaming
Até mesmo na hora de assistir ao filme, depois da produção e da recomendação, os dados e algoritmos também estão envolvidos – tudo para melhorar a sua experiência enquanto usuário.
A Netflix usa dados de exibição anteriores para prever o uso da largura de banda (internet) para decidir quando armazenar em cache os servidores regionais para fornecer um carregamento mais rápido durante o pico de demanda esperado.
A Netflix usa mais IA do que você imagina
A Inteligência Artificial e o machine learning melhoram muito a vida dos usuários sem sequer eles saberem.
Mesmo se soubessem, quem não quer uma indicação de filme que combine com seus gostos ou uma nova série para maratonar?
É para que isso que serve a tecnologia baseada em dados.
Ajudando a conhecer melhor os clientes, testar novidades e corrigir rapidamente eventuais erros até criar de novos produtos que atendam às demandas do mercado.
Assim como a Netflix, muitas empresas cresceram ao investirem em inteligência artificial e machine learning. E não são só os grandes cases mundiais. Essa tecnologia está mais acessível do que parece, além de ser um nicho profissional interessante e promissor.
E você? Já conhecia esses conceitos e situações onde a Netflix utiliza machine learning e inteligência artificial? Fique à vontade para deixar o seu comentário abaixo!